Voluntariado e Militância: os bastidores da mudança
Por Pablo Robles* - 15/08/2013
Nos últimos anos, tenho buscado refletir de maneira menos problematizadora e mais construtiva sobre essas duas categorias: voluntariado e militância. Como Administrador (minha primeira graduação), o termo “voluntário” mostra-se mais palatável e o termo “militância” parece mais agressivo. Como Cientista Social (minha segunda graduação, recém-concluída), o termo “militância” soa mais engajado e o termo “voluntário” desperta menos empolgação.
Afinal, faz sentido essa suposta dicotomia entre duas categorias que, no fundo, deveriam avançar de mãos dadas ou mesmo se confundir, na esteira do fazer social? Pesando, filtrando e desmistificando essas duas categorias, proponho que as revisitemos sob outras lentes, tentando se despir do ranço ideológico que contamina muitas de nossas percepções e nos abrindo para análises mais generosas acerca dos bastidores de toda mudança social.
As origens, os perfis e os discursos podem até variar entre as pessoas que se autodenominam voluntárias daquelas que se autoproclamam militantes. Porém, os caminhos trilhados por tais agentes sociais acabam se encontrando e convergindo em algum lugar, pois é inconcebível imaginar que ambos conspiram-se mutuamente, como se fossem inimigos movidos por objetivos opostos e excludentes. Por que não requalificarmos essas nomenclaturas?
A verdade é que os voluntários e militantes nunca precisaram tanto se unir, principalmente em um mundo onde os significados e as representações perderam muito de sua estabilidade explicativa. Um exemplo disso é a velha e anacrônica disputa entre esquerda e direita, como se as relações sociais fossem um ringue de MMA: de um lado, os socialistas bonzinhos; de outro, os capitalistas malvados. Assim como a complexidade da arena política extrapola bastante tais enquadramentos, estereotipar voluntários e militantes nos leva a um labirinto sem saída.
Não quero dizer que devemos jogar as ideologias na lata de lixo. Contudo, chegou a hora de reciclarmos nossos valores e atitudes. O voluntário de hoje pode ser o militante de amanhã, e vice-versa, pois muitos voluntários atuais podem ter sido grandes militantes outrora. O fato do voluntário se preocupar mais com as atividades e tarefas não quer dizer que o mesmo seja insensível às causas e lutas que geralmente tendem a ser associadas aos militantes. Mil vezes mais importante de como as pessoas se apresentam, é o que elas fazem.
E no campo do fazer, deveríamos estender o tapete todo dia para os atores sociais, independentemente de suas formações, experiências, vinculações e classificações. Os políticos e empresários são importantes para a sociedade, mas seus papéis já são claramente delimitados pelos governos e mandatos que representam, no caso dos primeiros, e pelos mercados e investimentos que operam, no caso dos últimos. Se uns roubam e outros exploram, o problema deixa de ser funcional e se torna imoral ou até criminal.
Longe das mídias e sem holofotes, lá estão eles e elas, marchando fielmente em busca de um mundo melhor. Os voluntários podem dar passos mais objetivos e modestos, enquanto os militantes podem adquirir ares mais politizados e revolucionários. Isso não tira o mérito nem desqualifica o papel de nenhum deles, muito pelo contrário: ser/estar voluntário e/ou ser/estar militante é uma questão, acima de tudo, de dignidade, de solidariedade e de coerência.
Sem necessariamente bater pontos, ostentar cargos e auferir rendimentos, os colaboradores sociais caminham em anônima e ousada sinergia, revezando-se ou sobrepondo-se ao longo de suas múltiplas e indispensáveis jornadas, replicadas nas incontáveis regiões do planeta e acumuladas pelas infindáveis gerações da história. A partir de agora, quando sua sensibilidade detectar cheiro de injustiça e desigualdade, lembre-se dos bastidores da mudança.
Pablo Robles é Diretor Presidente do Instituto Sinergia Social. E-mail: pablodosocial@gmail.com